Bárbara Kosloff
Bruna Valada
Gabriel Rocha Ribeiro
Yasmin Galli
Matheus Vaz
Victor Fernandes
A reeleição apertadíssima da presidente Dilma Rousseff e a eleição do Congresso mais conservador desde 1964, pouco mais de um ano após as manifestações de junho de 2013, mostra uma forte divisão no eleitorado brasileiro. Sobretudo nos jovens, protagonistas dos atos que tomaram as ruas de São Paulo, Rio de Janeiro e, posteriormente, todo o país, nota-se uma guinada em sentido contrário ao daqueles movimentos, pautados pela renovação política e luta por direitos sociais.
A forte rejeição a Dilma, tanto em manifestações nas ruas, ocorridas após as eleições, quanto em redes sociais, a votação maciça em candidatos da bancada da bala, como o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) e o deputado estadual de São Paulo, Coronel Telhada (PSDB), da bancada religiosa e ruralista, traduzem um sentimento crescente de conservadorismo entre os brasileiros, incoerente, a princípio, com as demandas levantadas há um ano.
Para tenter entender esse cenário, entrevistamos quatro jovens de 23 a 27 anos, que se colocam a direita do espectro político.
Todos discordam da maneira como a gestão petista tem conduzido a economia, são críticos e pessimistas em relação a classe política e a situação atual do país, embora sejam otimistas para o futuro. E, apesar do posicionamento conservador, são favoráveis com unanimidade ao casamento gay. Quando o assunto é regime militar ou aborto, dividem-se. Não há consenso em muitas áreas.
Para o jornalista de economia Arthur Odones, 23, que se classifica como sendo de “direita liberal”, o aborto não é uma prática coerente com o liberalismo. “Alguns falam que, como somos liberais, temos que defender o direito de liberdade da mulher de tirar o filho, afinal, o corpo é dela e ela faz o que ela quiser com ele. Nós contra argumentamos isso dizendo que a liberdade da mãe termina onde começa a do filho. Ela que tivesse se protegido e pensado nisso antes, pois, agora para ela usar seu direito à liberdade, ela terá que ferir a liberdade do ser humano que está dentro dela”.
Já o técnico de operações Oscar de Sousa Rodrigues, 24, considera que há outros aspectos, além das pautas progressistas, a serem abordados antes. “Tenho em minha concepção que o Brasil tem muitos problemas a se dedicar, dizendo, por minha opinião, que deveríamos deixar de lado esses assuntos e levantar assuntos mais importantes como a economia brasileira, odesenvolvimento do país”. Rodrigues foi o único entrevistado a votar em Dilma – todos os demais votaram no candidato Aécio Neves. Atribui, ainda, grande parte da condição atual do país no cenário político mundial aos anos de governo do Estado Novo e do regime militar: “as obras e evolução tecnologica que o país obteve entre os anos 1930 a 1980 foram 50 anos que tiraram o país da situação que estava para o padrão internacional de setor industrial, setor portuário e transporte”.
Rodrigues ainda propõe uma reformulação na política brasileira: “a democracia do jeito que está aplicada aqui é insuficiente, o voto obrigatório, a política de reeleição, os patrocínios aos partidos políticos, tudo isso torna a democracia ineficiente aqui [no Brasil].”
A questão do regime militar é divergente. Eduardo da Silva Ribeiro, vendedor de 29 anos e o produtor de eventos, Marcel Marciano, 26, é o mais firme em sua posição. “Eu gostaria muito que houvesse outro golpe militar. Os militares de hoje são diferentes dos militares de outrora. Os tempos mudaram, a cabeça dos militares é mais moderna, e muitas coisas não aconteceriam como da outra vez. Nenhum regime acontece da mesma forma de outro que já foi, em nenhum lugar do mundo, mesmo que seja um regime da mesma linha, porque você aprende com os erros e acertos do anterior”, afirma Marciano. Eduardo Ribeiro não vê a possibilidade da volta de uma ditadura militar no Brasil, embora concorde que esta seria benéfica. “Eu acho que o militarismo é rígido e o Brasil precisa de rigidez. Pena de morte, como nos Estados Unidos.”
Com uma pequena amostra desta parcela conservadora do eleitarado jovem brasileiro, contatamos uma forte pluralidade de ideias e opiniões e fortes divergências. A política brasileira, apesar do bipartidarismo tucano e petista, está fragmentada. Os 49% que fizeram frente a Dilma, inclusive.